quarta-feira, 26 de setembro de 2012

“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.”


Boas Vindas para Todos que Vem a Cristo


No. 2349
Sermão pregado na noite de Domingo, 17 de Novembro de 1889
Por Charles Haddon Spurgeon.
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres
“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” (João 6:37)
Cristo não morreu em vão. Seu Pai lhe deu certo número que constituiria a recompensa da aflição de Sua alma, e há de receber a cada um deles, tal como disse: “Todo o que o Pai me dá, virá a mim”. A graça toda poderosa constrangerá docemente a todos eles a virem. Meu pai me deu recentemente algumas cartas que eu lhe escrevi quando começava a pregar. São epístolas quase pueris, porem, ao lê-las novamente, notei em uma delas essa expressão: “Como anseio ver a salvação de milhares de seres; porem, meu grande consolo é que alguns serão salvos, tem que ser salvos e haverão de ser salvos, pois está escrito: ‘Todo o que o Pai me dá, virá a mim”.
A pergunta que cada um de vocês deve fazer é: “Eu pertenço a esse número?” Irei pregar para vocês com o propósito de os ajudar a descobrir se pertencem a esse “todo” que o Pai deu a Cristo, o “todo” que virá a Ele. A segunda parte do versículo pode ajudar-nos a entender a primeira parte. “E o que vem a mim, não lhe lanço fora”, nos servirá para explicar as palavras prévias de nosso Salvador: “Todo o que o Pai me dá, virá a mim”.
Não me resta tempo para entender-me no prefácio. Devo entrar de imediato no tema e tratar de expor tudo em uma forma condensada. Tenham a bondade de prestar atenção à Palavra, pensar nela e orar por ela; e que Deus Espírito Santo a aplique em todos seus corações!
I. Primeiro, notem no texto A NECESSIDADE DA PERSONAGEM: “e o que vem a mim”. Se você quer ser salvo, tem que vir a Cristo. Não há outro caminho de salvação sob o céu exceto vir a Cristo. Acuda ao lugar que queira, porem, se achará desiludido e perdido; é somente vindo exclusivamente a Jesus que você tem a única possibilidade de obter a vida eterna.
O que é vir a Cristo? Bem, implica em abandonar todas as outras confianças. Vir à alguém é deixar a todos os demais. Vir a Cristo é deixar qualquer outra coisa, é abandonar qualquer outra esperança, qualquer outra confiança. Confia em suas próprias obras? Confia em um sacerdote? Confia nos méritos da Virgem Maria, ou dos santos, ou dos anjos do céu? Confia em qualquer outra coisa que não seja o Senhor Jesus Cristo? Se for assim, abandona essa confiança e termine com isso. Aparte-se de qualquer outra segurança e confia em Cristo crucificado, pois esse é o único caminho de salvação, tal como Pedro disse aos governantes e aos anciãos de Israel: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12)
“A Jesus vertendo sangue no madeiro
Volte teus olhos e teu coração”
E apele a Ele imediatamente, e sua alma viverá para sempre.
Vir a Jesus quer dizer, brevemente, confiar Nele. Ele é um Salvador; esse é Seu ofício; portanto, venha a Ele, e confie em que Ele o salvará. Se você pudesse salvar-se a si mesmo não precisaria de um Salvador, e já que Cristo resolveu ser um Salvador, deixe que Ele cumpra esse oficio. Ele o fará. Vem, e deposite todas as suas necessidades a Seus pés, e confia Nele. Resolva que, se você se perdesse, estaria perdido depois de ter confiado unicamente em Jesus, e isso não pode jamais acontecer. Amarre todas suas esperanças em um embrulho, e coloque esse embrulho sobre Cristo. Deixa que Ele seja toda sua salvação, todo seu desejo, e então você será salvo com certeza.
Eu tratei de lhes explicar algumas vezes ao que se assemelha a vida de fé: é muito semelhante a um homem que caminha sobre uma corda bamba. Ao crente é dito que não cairá e ele confia em Deus que não cairá; mas, de vez em quando, diz: “Quanta distância existe embaixo, se eu caísse!” Com frequência tive essa experiência: subia por uma escada invisível e não podia ver o degrau seguinte, e quando pisava meu pé sobre ele, parecia como que se afundasse num abismo; no entanto, prosseguia firmemente em minha subida, um passo cada vez, sem ser capaz de ver nada nessa absoluta escuridão, segundo aparentava, no entanto, sempre contava com uma luz justo aonde necessitava dela.
Eu sempre segurava uma vela para meu pai, à noite, quando serrava madeira no pátio, e ele costumava me falar: “garoto, por favor, segure a vela onde estou serrando e não olhe para o lado.” E frequentemente experimentei – quando quis ver antecipadamente algo que teria seu lugar a metade da semana seguinte, ou do ano seguinte – que o Senhor parecia dizer-me justamente: “Sustenta a vela para que ilumine a parte da obra que tem que fazer hoje, e se pode ver isso, fique satisfeito, pois essa é toda luz que necessita exatamente agora.” Suponha que pudesse adentrar-se em visão no interior da seguinte semana; constituiria uma grande misericórdia que perdesse sua visão por um tempo, pois um olhar ao longo alcance que perceba antecipadamente as preocupações e os problemas, não é um beneficio. “Basta a cada dia seu próprio mal”, assim como basta a cada dia seu próprio bem. Porem, o Senhor educa efetivamente Seu povo para os céus e o faz provando a fé dele no assunto de Seu cuidado cotidiano deles. Com frequência, a confiança de um homem em Deus para satisfação de suas necessidades terrenais demonstra que confiou no Senhor para os assuntos de maior peso relacionados com a salvação de sua alma. Não pinte uma raia entre o temporal e o espiritual dizendo: “Deus chega unicamente até aqui, portanto, não levarei tal e tal assunto a Ele em oração.”
Recordo ter ouvido sobre certo individuo de quem alguém comentava: “Bem, é um homem muito raro: outro dia estava orando por uma chave!” Por que não se poderia orar por uma chave?  Por que não se poderia orar por um pino? Algumas vezes poderia ser tão importante orar por um alfinete como orar por um reino. As pequenas coisas são frequentemente as peças chaves dos grandes eventos. Preocupem-se por trazer tudo a Deus em fé e em oração. “Por nada estejais ansiosos, mas sim sejam conhecidas vossas petições diante de Deus em toda oração e súplica, com ação de graças”.
Desviei-me de meu tema por uns instantes, mas refletiremos agora de novo sobre o assunto de vir a Cristo. Vir a Jesus não só implica em abandonar todas as demais confianças e confiar em Cristo, mas também significa seguir a Ele. Se você confia Nele, tem que obedecer-Lhe. Se você coloca sua alma em Suas mãos, tem que aceitá-lo como seu Mestre e como seu Senhor, assim também como seu Salvador. Cristo veio para salvar-lhe do pecado, não no pecado. Portanto, Ele o ajudará a abandonar seu pecado sem importar qual seja. Ele lhe dará a vitória sobre o pecado. Ele o fará santo. Ele o ajudará em tudo que tenha que fazer aos olhos de Deus. Ele pode salvar perpetuamente aos que por Ele se acercam a Deus, porem precisam vir a Ele, se querem ser salvos por Ele.
Resumindo tudo o que eu disse, você deve renunciar a qualquer outra esperança; tem que aceitar Jesus como sua única confiança, e logo, tem que ser obediente a Seu mandato e aceitá-lo para que seja seu Mestre e Seu Senhor. Você está disposto a fazê-lo? Se não o está, não tenho nada a dizer-lhe exceto isso: “todo aquele que não creia Nele perecerá sem esperança”. Se não quer aceitar o remédio de Deus para o mal de sua alma – o único remédio disponível – não resta nada para você exceto escuridão e sombrias trevas pelos séculos dos séculos.
II. Porem, agora, em segundo lugar, ciente que existe essa necessidade de uma personagem, notem também A UNIVERSALIDADE DAS PESSOAS: “e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora
É um fato que tudo o que se precisa é vir a Cristo. Alguém diz: “amigo, eu sou uma pessoa muito obscura; ninguém me conhece; meu nome não esteve jamais nos periódicos, nem estará jamais; eu sou um Zé Ninguém” Bem, se o Sr. “Zé Ninguém” vem a Cristo, Ele não o lançará fora. Vem, você, pessoa desconhecida; você, indivíduo anônimo; você, a quem todo o mundo, exceto Cristo, tem no esquecimento! Ainda mesmo se você viesse a Jesus, Ele não lhe lançaria fora.
Outro diz: “eu sou muito singular”. Não fale muito a respeito disso, pois eu também sou muito raro; porem, querido amigo, sem importar quão singulares sejamos, ainda que somos considerados muito excêntricos e alguns inclusive pensem que estamos um pouco lesados da cabeça, contudo, Jesus disse: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Vem, Sr. Raridade! Não estará perdido por falta de cérebro nem tampouco por ter cérebro em demasia (ainda que esse não seja um infortúnio muito comum). Se você vem a Cristo, ainda que não tenha talento, ainda que seja muito pobre e não prospere muito no mundo, Jesus te diz: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.
“Ah,” diz um terceiro amigo, “a mim não me importa ser obscuro, ou ser excêntrico, porem, a gravidade de meu pecado é o que me impede de ir a Cristo.” Leiamos o texto de novo: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Ainda que tivesse sido culpado de pecados impossíveis, contudo, se viesse a Cristo, fixe-se, se viera a Cristo, a promessa de Jesus seria cumprida inclusive no seu caso: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.
“Porem” – diz outro – “estou completamente desgastado, sou bom para nada. Passei todos meus dias e anos em pecado. Cheguei ao próprio fim do capítulo; não valho a pena para nada.” Apresse-se em vir, você, remanescente de vida! Jesus disse: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Você tem que caminhar com muletas, não é certo? Não se preocupe, vem para Jesus. Você está tão fraco que até mesmo lhe assombra estar com vida em sua idade avançada. Meu Senhor o receberá ainda que tenha cem anos de idade; têm acontecido diversos casos de pessoas que foram tragas a Cristo inclusive depois dessa idade. Existem uns quantos exemplos muito notáveis registrados desse fato. Cristo disse “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Se for tão velho como Matusalém, bastaria que viesse a Cristo, e não seria lançado fora.
“Ai” – alguém diz – “meu caso é ainda pior que o desse ancião amigo, pois ademais de ser velho, resisti ao Espírito de Deus. Minha consciência remordeu-me por muitos anos, porem, tratei de encobrir tudo. Afoguei todo pensamento piedoso.” Sim, sim, e é também algo muito triste, porem, apesar de tudo isso, se você vem a Cristo, se pudesse correr a toda velocidade para alcançar a salvação e vir a Jesus, Ele não poderia lhe lançar fora.
Um amigo talvez diga: “Temo que cometi o pecado imperdoável”. Se você vem a Cristo, não o teria cometido, isso o sei; pois todo aquele que venha a Ele, Jesus não o lançará fora. Portanto, não poderia ter cometido o pecado imperdoável. Apresse-se em vir, amigo, se é mais negro que todo o resto dos pecadores do mundo, pois muito mais gloriosa será a graça de Deus quando tenha demonstrado seu poder lavando-lhe no precioso sangue de Jesus e o tornando mais alvo que a neve.
“Ah!” – diz alguém – “você não me conhece, amigo” não, meu querido amigo, não lhe conheço; porem, talvez, num dias desses poderei ter esse prazer. “Não seria nenhum prazer para você, amigo, pois sou um apóstata. Eu era um professante da religião, mas renunciei a tudo isso e regressei ao mundo, fazendo intencional e perversamente todo tipo de coisas más.” Ah, bem, com só que viesse a Cristo, ainda que houvesse em você sete apostasias empilhadas umas sobre as outras, Sua promessa segue sendo válida: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Oh rebelde, sem importar o que tivera sido seu passado e sem importar o que seja seu presente, retorne a Cristo, pois Ele se apega a Sua palavra empenhada, e meu texto não menciona nenhuma exceção: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.
“Bem, amigo” – outro clama – “eu gostaria de vir a Cristo, mas não me sinto apto a vir”. Então, vem ainda estando desqualificado, tal como está. Jesus disse: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Se me despertassem a meia noite com o grito de “Fogo! FOGO”, e eu percebesse que alguém estava junto da janela que dá para a escada de emergência, não creio que eu ficaria em minha cama dizendo: “Não tenho posta minha cinta de etiqueta”, ou “não coloquei meu melhor jaleco”. Não falaria jamais dessa maneira. Sairia pela janela tão rápido como pudesse, e desceria pelas escadas de emergência.
Por que você fala de idoneidade, idoneidade, idoneidade? Fiquei sabendo de um partidário de Carlos I[1] que perdeu sua vida porque se deteve para encrespar seus cabelos enquanto era perseguido pelos soldados de Cromwell[2]. Alguns de vocês poderiam rir dessa insensatez desse cavaleiro; porem é isso exatamente o mesmo que teu falatório sobre a idoneidade. Que é toda sua idoneidade senão encrespar seus cabelos quando este em iminente perigo de perder sua alma? Sua idoneidade não é nada para Cristo. Lembrem o que cantamos no começo do serviço:
“Não permitas que a consciência te detenha;
Nem sonhes tercamente com a idoneidade;
Toda a idoneidade que Ele requer
É que sintas sua necessidade Dele
Isso lhe o dá Ele;
És a base de apoio do Espírito.”
Vem a Cristo tal como é, sujo, vil, descuidado, ímpio e sem Cristo. Vem agora, agora mesmo, pois Jesus disse: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.
Por acaso existe uma gloriosa amplitude em meu texto “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”? Quem é o “Aquele”, ou o “O”, o sujeito? É “que vem” Qual? “o que vem a mim”? qualquer um que venha de qualquer parte do mundo. Se vem a Cristo, não será lançado fora. Um homem vermelho, negro, branco, amarelo ou cobre, sem importar quem seja, se vem a Jesus, não será lançado fora.
Quando queira descrever algo amplamente, sempre é melhor que o declare e o deixe assim. Não entre em detalhes; o Salvador não o faz. Alguns anos atrás, um homem, um esposo amável e amoroso, desejava deixar para sua esposa todas suas propriedades. Queria que sua esposa recebesse tudo o que possuía, como devia ser, de tal forma que estabeleceu no seu testamento: “Relego a minha esposa, Elizabeth, tudo o que possuo.” Isso estava muito bem. Logo, prosseguiu a descrever em detalhes tudo o que estava deixando, todos os bens sobre os quais tinha domínio absoluto, em vez de declará-la “herdeira universal”. Dava a casualidade que a maior parte de suas propriedades estavam arrendadas, e não figuravam na relação dos bens em domínio absoluto, de tal forma que a esposa não recebeu nada dessa parte porque seu esposo tinha optado por dar uma descrição detalhada em vez de declarar ela como herdeira universal; por culpa do detalhe da herança a herança se escapou da boa mulher.
Agora, aqui não há detalhe, em absoluto: “o que a mim vem”. Isso quer dizer que qualquer homem, qualquer mulher e qualquer menino sob os amplos céus, que simplesmente venham e confie em Cristo, não serão lançados fora de nenhuma forma. Dou graças a Deus porque não existe nenhuma alusão a nenhuma identidade especial, como que se fosse dito especialmente: “As pessoas de tal e tal identidade serão recebidas”, pois então os caracteres que não são mencionados poderiam supor a si excluídos; porem, o texto quer dizer claramente que toda alma que venha a Cristo será recebida por Ele.
III. O voo do tempo me apressa, portanto, lhes suplico que escutem com atenção enquanto lhes falo, em terceiro lugar, sobre a QUALIDADE INEQUIVOCA DA PROMESSA: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, isso é, por nenhuma razão, sob nenhuma circunstância, em nenhum momento, sobre nenhuma condição de nenhum tipo, “lhes lanço fora;” o quão quer dizer, bem interpretado: “Irei recebê-los, ire salvá-los, irei abençoá-los”.
Então, meu querido amigo, se viesse a Cristo, como Ele poderia lançar-lhe fora? Como poderia fazê-lo em consistência com Sua veracidade? Imaginem a meu Senhor Jesus fazendo essa declaração e a entregando como uma Escritura inspirada: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, no entanto, lançando alguém para fora, a esse alguém desconhecido que está parado na esquina. Vamos, seria uma mentira; seria uma mentira qualificada! Suplico-lhes que não blasfemem de meu Senhor, o Cristo veraz, ao suporem que pudera ser culpado de uma conduta como essa. Ele poderia ter feito o que quisesse quanto a quem receberia até o momento de fazer a promessa; porem, depois de comprometer Sua palavra, se obrigou a guardá-la pela veracidade de Sua natureza; e entanto que Cristo seja o Cristo verdadeiro, Ele tem que receber a toda alma que venha a Ele.
Porem, deixe-me perguntar-lhe: suponha que viesse a Cristo e que Ele o lançasse fora: com que mãos Ele poderia fazer isso? Você responde: “Com suas próprias mãos”. Como! Cristo dá um passo adiante para lançar fora a um pecador que veio a Ele? Pergunto de novo: com que mãos Ele poderia fazê-lo? Acaso o faria com essas mãos traspassadas que ainda mostram os sinais dos cravos? Acaso o Crucificado rejeitaria a um pecador? Ah, não! Ele não tem nenhuma mão com a que faria uma cruel obra como essa, pois entregou ambas mãos para que fossem cravadas ao madeiro pelos homens culpados. Não tem mãos nem pés nem coração com que pudesse rejeitar aos pecadores, pois todos esses membros foram perfurados em Sua morte pelos pecadores; portanto, não poderia lançá-los fora se viessem a Ele.
Deixe-me fazer outra pergunta: Que benefício seria para Cristo se Ele efetivamente o lançasse fora? Se meu amado Senhor, o da coroa de espinhos e do lado traspassado e das mãos perfuradas lhe fora lançar longe, que glória isso Lhe aportaria? Se o lançasse ao inferno, a você que veio a Ele, que felicidade daria isso para Ele? Se o lançasse fora, a você que buscou Seu rosto, a você que confiou em Seu amor e em Seu sangue, por qual método concebível esse ato o faria mais feliz ou grande? Não pode ser.
Que implicaria essa suposição? Imagine por um momento que Jesus efetivamente lançasse fora a alguém que viesse a Ele; se fosse comprovado que uma alma veio a Cristo e, contudo, Ele a lançou fora, que sucederia? Bem, haveria milhares de nós que não pregaríamos nunca mais! Logo eu acabaria com meu ofício. Se meu Senhor lançasse fora a um pecador que viera a Ele, eu não poderia com uma consciência limpa, ir pregar baseando-me em Suas palavras: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Alem disso, sentiria que se Ele falhou em uma promessa, poderia falhar em outras. Eu não poderia sair e pregar um Evangelho possível, porem duvidoso. Eu devo ter os “farei” e os “assim será” provenientes do trono eterno de Deus; se não fosse assim, nossa pregação seria vã e nossa fé também seria vã.
Vejam quais seriam as consequências se uma alma viesse a Cristo e Cristo a lançasse fora. Todos os santos perderiam sua confiança Nele. Se um homem quebranta sua promessa uma vez, não tem o caso que diga: “bem, eu geralmente sou verdadeiro”. Comprovou que não cumpriu sua palavra uma vez, e não confiaria nele de novo, não é certo? Não; e se nosso amado Senhor, de quem todas Suas palavras são verdadeiras e verazes, poderia cumprir uma de Suas promessas uma só vez, perderia a confiança de Seu povo por completo e Sua Igreja perderia a fé que é sua vida mesma.
Ah Deus meu, e logo saberiam disso no céu, e uma alma que viesse a Cristo e fosse deixada fora deteria a musica das harpas do céu, borraria o lustre da terra da glória, e suprimiria seu gozo, pois os glorificados sussurrariam entre si: “Jesus quebrou Sua promessa. Lançou fora uma alma que orava e cria; então Ele poderia quebrar a promessa que nos fez, e poderia nos lançar fora do céu”. Quando começassem a louvá-Lo, esse ato solitário seu colocaria um nó em suas gargantas e não seriam capazes de cantar. Elas estariam pensando nessa pobre alma que confiou Nele, mas que foi lançada fora; assim que, como poderiam cantar: “Ao que nos amou, e nos lavou de nossos pecados com seu sangue”, se tivessem que acrescentar:“porem não lavou a todos que vieram a Ele, ainda que tenha prometido que o faria”?
Não gosto sequer de falar de tudo o que essa suposição implicaria; é algo muito terrível para mim, pois no inferno iriam ficar sabendo disso, e seria transmitido de uns para outros, e um terrível regozijo se apoderaria dos diabólicos corações do demônio e de seus companheiros, que diriam: “O Cristo não cumpre Sua palavra; o alardeado Salvador rejeitou a um que veio a Ele. Sempre recebia pecadores, inclusive as rameiras, e até permitiu que uma delas lavasse Seus pés com suas lágrimas; os publicanos e os pecadores vinham e se juntavam a sua volta, e Ele lhes falava em tons de amor; porem aqui está um… bom, ele era demasiadamente vil para que o Salvador o abençoasse; era tão extremamente desviado que Jesus não pode restaurá-lo. Cristo não pode limpá-lo. Ele pode salvar a pecadores menores, porem não aos maiores; podia salvar à mil e oitocentos anos. Oh, fez ostentação da salvação deles, porem Seu poder extinguiu-se agora e já não pode salvar pecadores.” Oh, nos salões do Hades, que piadas e zombarias seriam lançadas contra esse amado nome, e quase diria, ‘justamente’, se Cristo lançasse fora a um que viesse a Ele! Porem, amados, isso não pode jamais acontecer; é tão certo como o juramento de Deus, tão certo como o ser do SENHOR, que o que vem a Cristo não será lançado fora. Eu alegremente dou meu próprio testemunho diante dessa multidão reunida que:
Eu vim a Jesus tal como estava
Cansado, desgastado e triste;
Encontrei Nele um lugar de repouso,
E Ele me alegrou.”
Venham, cada um de vocês, e comprovem por experiência própria que o texto é verdadeiro, por nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
LucioFidalgo

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