Nos anos
seguintes à interferência de Pompeu (63 a.C.) há paz na Palestina. Porém, em
Roma as coisas se complicam. De 69 a 62 a.C. Roma é governada pelo triunvirato Crasso, Pompeu e César .
Depois, enquanto César luta nas Gálias, governam os cônsules Crasso e Pompeu
(55-54 a.C.), mas Crasso é derrotado em 53 a.C. pelos partos, ficando somente
Pompeu como cônsul (51-49 a.C.). Entretanto, chega César,
toma a Itália e a Espanha, confronta-se com Pompeu, que é finalmente vencido em
Farsália, na Grécia, no ano 48 a.C. No Egito, um pouco mais tarde, Pompeu é
assassinado.
César
nomeia Cleópatra VII, a famosa herdeira
dos Ptolomeus, rainha do Egito e, nesta luta pelo controle do
Egito, recebe apoio de Hircano II que lhe envia tropas comandadas por
Antípater. São estas tropas que conquistam Pelúsio, no delta do Nilo, para
César.
Quando,
em 47 a.C., César chega à Síria, como prêmio, dá a Hircano
II o título de etnarca (governador de um grupo racial com o seu
território) da Judéia, confirmando-o também no cargo de sumo sacerdote. Antípater recebe a cidadania romana e é nomeado
prefeito ou procônsul da Judéia, enquanto seus dois filhos Fasael e Herodes
são nomeados respectivamente estrategos de Jerusalém e da Galiléia.
César é
assassinado em meados de março de 44 a.C., e Roma volta a ser governada por
triúnviros: Antônio, Otaviano e Lépido.
Entretanto,
as intrigas palestinenses continuam: Antípater é envenenado em 43 a.C. pelo copeiro
de Hircano II. Em 41 a.C. Antônio nomeia Herodes e Fasael etnarcas, enquanto
Hircano II permanece apenas como sumo sacerdote.
Devido à
fraqueza do controle romano na província da Síria, esta é invadida, em 40 a.C.,
pelos partos, descendentes do antigo império persa. Os partos colocam Antígono, filho de Aristóbulo II, como sumo
sacerdote e rei na Judéia (40-37 a.C.).
Antígono
corta as orelhas de Hircano II, seu tio, incapacitando-o, assim, para o cargo
de sumo sacerdote (cf. Lv 21,17-23). Fasael se suicida. Herodes foge para Roma
e no final do ano 40 a.C. e nomeado, pelo Senado romano, rei da Judéia, com uma
única condição: terá que conquistar seu reino.
Em 37
a.C. Herodes torna-se o senhor da Palestina. Casa-se com Mariana I, parente de
Aristóbulo II e Hircano II, entrando definitivamente para a família asmonéia.
Herodes
Magno governa o povo judeu durante 34 anos (37-4 a.C.).
Herodes se equilibra no delicado jogo do poder
porque sabe ser servil a Roma. Primeiro apóia Antônio, mas quando este é
vencido por Otaviano na famosa batalha naval de Áccio, no ano 31 a.C., Herodes
vai imediatamente visitar o vencedor, que está na ilha de Rodes, e, em gesto
teatral, depõe a coroa a seus pés.
Resultado:
volta para casa reconfirmado rei por Otaviano e ainda consegue
favores: como o engrandecimento de território, a exoneração de
tributo a Roma, a isenção de tropas de ocupação, a autonomia interior para as
finanças, a justiça e o exército.
Herodes
luta com decisão para consolidar o seu poder. Isto significa, antes de mais
nada, que ele elimina, através de assassinatos e intrigas várias, adversários
seus, inclusive alguns membros de sua família - como esposa e filhos.
Consolidado
o poder, constrói obras grandiosas na Judéia. Templos, teatros, hipódromos,
ginásios, termas, cidades, fortalezas, fontes. Reconstrói totalmente o Templo
de Jerusalém, a partir do inverno de 20-19 a.C.
Reconstrói
Samaria, dando-lhe o nome de Sebaste, feminino grego de Augusto, em homenagem
ao Imperador romano; constrói um importante porto, Cesaréia Marítima; Mambré,
lugar sagrado ligado a Abraão, recebe uma grande construção que o valoriza;
fortalezas são reedificadas ou totalmente construídas como Alexandrium,
Heródion, Massada, Maqueronte, Hircania etc. Jericó é embelezada e
torna-se sua residência favorita.
Observemos
os nomes de suas construções, reveladores de seu espírito político:
Valorizando
o culto, Herodes Magno ganha para si o povo. Construindo fortalezas, controla
possíveis revoltas. Matando seus inimigos, seleciona seus herdeiros. Apoiando a
cultura helenística, aparece diante do mundo. Servindo fielmente a Roma,
conserva-se no poder...
Entretanto,
Herodes não tem legitimidade judaica, pois descende de idumeus e sua mãe é
descendente de árabe. Assim, por ser estrangeiro, não tem para com os judeus
nenhuma relação de reciprocidade e sua legitimidade se funda na própria
estrutura do poder exercido[1].
Quando
vence os seguidores de Antígono, Herodes constrói uma estrutura de poder
independente da tradição judaica:
- nomeia o sumo sacerdote do
Templo: destitui os Asmoneus e nomeia um sacerdote da família sacerdotal
babilônica e, mais tarde, da alexandrina
- exige de seus súditos um
juramento que obriga a pessoa a obedecer às suas ordens em oposição às
normas tradicionais; se a pessoa recusar o juramento, é perseguida
- interfere na justiça do
Sinédrio
- manda vender os assaltantes
e os revolucionários políticos capturados como escravos no exterior, sem
direito a resgate
- a venda à escravidão e a
execução pessoal (a morte) tornam-se normas comuns do arrendamento
estatal.
Mas, se
ele viola assim a tradição, como consegue legitimidade?
A
estrutura de poder do Estado sob Herodes é bem diferente da estrutura da época
dos Macabeus:
- o rei é legitimado como
pessoa e não por descendência
- o poderio não se orienta
pela tradição, mas pela aplicação do direito pelo senhor
- o direito à terra é
transmitido pela distribuição: o dominador a dá ao usuário: é a "assignatio"
- a base filosófica
helenística é que legitima o poder do rei, quando diz que o rei é
"lei viva" (émpsychos nómos), em oposição à lei
codificada, ou seja: o rei é a fonte da lei, porque ele é regido pelo
"nous": o rei tem função salvadora e, por isso, dá aos
seus súditos uma ordem racional, através das normas do Estado. "O rei
em sua pessoa é a continuação do seu reino e o salvador de seus
súditos", diz H. G. Kippenberg[2].
- o poder militar de Herodes
se baseia em mercenários estrangeiros que ficam em fortalezas ou em
terras dadas aos mercenários (cleruquias) por ele (terras no vale de
Jezrael), e nas cidades não-judaicas por ele fundadas, a cujos cidadãos
ele dá como posse o território que as rodeia, com os camponeses dentro!
Seus
herdeiros: Arquelau, Herodes Antipas e Felipe.
LucioFidalgo
Nenhum comentário:
Postar um comentário