Domingo
de Manhã – 11 de Agosto de 1872 -
"Ninguém jamais ouviu que os olhos de um cego de nascença tivessem
sido abertos" (João 9.32).
miserável
já frustrou todos os outros tipos de ajuda. Sua misericórdia não está limitada
pelos precedentes. Ele conserva o frescor e a originalidade do amor. Se você
não conseguir descobrir nenhum caso em que uma pessoa como você já foi salva,
não deve concluir que, por isso, necessariamente está perdido; ao contrário,
você deve crer naquele que realiza grandes obras sobrenaturais, sim, e
maravilhas inescrutáveis no caminho da graça. Ele faz segundo a sua vontade, e
sua vontade é o amor. Tenha esperança de que ele, vendo você como um pecador
singular, fará de você um troféu singular da sua capacidade de perdoar e de
abençoar. Foi assim com os olhos desse homem: se nunca antes olhos nascidos
mortos tivessem sido abertos, Jesus Cristo faria a obra, e tanto maior seria a
glória que o milagre contribuiria para o seu nome. Ninguém precisa mostrar a
Jesus o caminho, ele ama abrir caminhos por conta própria, e quanto maior o
espaço para a sua misericórdia, tanto mais ele gosta da estrada.
Por isso,
meu propósito é obter instrução da expressão específica que o homem curado
empregou aqui. Que o Espírito Santo torne esta meditação verdadeiramente
proveitosa para nós!
Em
primeiro lugar, pedirei que vocês observem a peculiaridade do seu caso - era um
homem nascido cego; em seguida, os aspectos especiais da sua cura ocuparão um
pouco a nossa atenção; e, em terceiro lugar, apresentaremos algumas observações
a respeito da condição singular do homem curado a partir do momento em que seus
olhos foram abertos.
I.
Primeiro, então: A PECULIARIDADE DO SEU CASO.
Não era um
caso de falta de luz; isso poderia ter sido rápida e facilmente solucionado.
Havia bastante luz ao seu redor, mas o pobre homem não tinha olhos. Ora,
existem milhões de pessoas no mundo que possuem pouca ou nenhuma luz; escuridão
cobre a Terra, e trevas pesadas cobrem o povo. A razão de ser da igreja é
disseminar a luz em todas as direções, e ela está bem qualificada para essa
obra. Não devemos deixar qualquer pessoa perecer pela falta de conhecer o
evangelho. Não temos a capacidade de dar olhos às pessoas, mas podemos lhes
transmitir a luz. Deus nos tem colocado entre seus candeeiros de ouro e dito:
"Vocês são as luzes do mundo." Ora, acredito que haja pessoas que possuem
olhos, mas que, apesar disso, enxergam bem pouco por causa da falta de luz; são
filhos de Deus, mas andam nas trevas e não enxergam luz nenhuma; Deus lhes deu
a faculdade espiritual da vista, mas por enquanto, estão lá no fundo das minas,
na região da noite e da sombra da morte. Estão detidas no Castelo das Dúvidas,
onde bem poucos raios fracos de luz conseguem, com muito esforço, penetrar
naquela masmorra. Andam como homens na neblina, vendo, porém não vendo. Escutam
a pregação de doutrinas que não são a pura verdade, o trigo joeirado da aliança
e, estando seus olhos cegados pela palha e pela poeira, ficam desnorteadas,
como que perdidas num labirinto. Existem pessoas em demasia que, nesta luz tão
obscura, tecem por conta própria teorias de dúvida e de medo que aumentam o
sombrio; suas lágrimas maculam as janelas da sua alma. São como homens que
instalam persianas e venezianas para excluir o sol. Que vocês e eu tenhamos o
papel, mediante a explicação e o exemplo, por meio de ensinarmos com a
linguagem dos lábios, e com a linguagem que fala mais alto (a das nossas
vidas), de disseminarmos a luz em todas as direções, a fim de que se regozijem
aqueles que habitam na meia-noite espiritual, porque para eles raiou a luz.
Além
disso, não se trata de um homem cuja cegueira foi provocada por um acidente.
Neste caso, também, a ajuda dos homens pode ser de grande utilidade. Existem
pessoas que, feridas pela cegueira, ainda se recuperaram. Há um exemplo notável
disso na história bíblica, quando Elias feriu de cegueira um exército inteiro,
mas depois orou a Deus em favor deles, e eles recuperaram a vista
imediatamente. Existem muitas coisas que podemos fazer nos casos de a cegueira
ser atribuível mais às circunstâncias do que à natureza. Por exemplo, no mundo
inteiro existe preconceito. As pessoas condenam a verdade antes de ouvi-la;
formam opinião a respeito do evangelho, sem terem estudado o próprio evangelho.
Coloquem o Novo Testamento na mão delas, exortem-nas a serem imparciais, e a
investigá-lo com seu melhor juízo, e a buscar a orientação do Espírito Santo, e
acredito que muitos enxergariam seus próprios erros e se endireitariam. Existem
pessoas, com espírito sincero, cujas percepções mentais são cegadas pelos
preconceitos, que seriam muito graciosamente ajudadas a enxergar a verdade se a
colocássemos diante delas com ternura e sabedoria. Os preconceitos da educação
afetam muitos neste país. Somos, até a medula dos ossos, um povo muito
conservador, que mantemos firme o erro estabelecido, e que suspeitamos de
qualquer verdade que ficou negligenciada durante longo tempo. Nossos
compatriotas não são facilmente levados a acolher a verdade mais óbvia, a não
ser que tenha estado na moda durante um período muito longo. Talvez seja melhor
assim do que sermos levados por todo o vento de doutrina, e corrermos atrás de
todas as novidades, como fazem alguns; mas, por causa disso, o evangelho é
obrigado, neste país, a combater uma grande massa de preconceitos. "Tais
eram os meus pais, e assim também eu devo ser." "Nossa família sempre
tem sido desse jeito, e, por isso, também serei eu, bem como os meus
filhos." Por mais certa que seja a verdade que é apresentada diante da
mente de algumas pessoas, nem sequer lhe prestarão ouvidos, porque homens de
idade, homens bons e homens de autoridade já resolveram o contrário. Tais
pessoas tomam por certo que são corretas por herança, e ortodoxas por causa dos
ancestrais; não podem aprender coisa alguma: alcançaram a plenitude da
sabedoria, e nessa posição pretendem ficar. A igreja de Deus deve procurar
remover todos os preconceitos dos olhos humanos, de onde quer que tenham
surgido. Podemos curar semelhante oftalmia, está dentro da nossa esfera fazer
essa tentativa. Assim como fez Ananias, podemos remover as escamas dos olhos de
um Paulo que ficou cego. Ao passo que Deus tem dado olhos, nós podemos lavar o
pó deles. Conviva com seus conhecidos, conte-lhes que a fé o salvou, deixe que
eles vejam as boas obras que a graça de Deus produz em você, e assim como o
evangelho removeu dos olhos humanos as escamas do judaísmo, da filosofia grega,
da soberba romana, assim também, sem dúvida, neste país e nesta era, ele
acabará logo com os preconceitos que alguns estão empregando seus máximos
esforços para fomentar.
Mas o caso
desta narrativa não era o de um homem que ficou cego por acidente, e, em
consequência, tipificasse um entendimento escurecido pelo preconceito. O homem
era cego de nascença; a cegueira dele era de natureza, e por isso desafiava
toda a perícia cirúrgica; e, quanto à cegueira provocada pela depravação
humana, a cegueira que nos acompanha desde a nascença, e continua conosco até o
momento em que a graça de Deus nos leva a nascermos de novo, posso dizer que,
desde o início do mundo, nunca se ouviu falar que alguém tivesse aberto os
olhos de quem nasceu com cegueira espiritual, a qual faz parte da sua natureza.
Se for algo de fora que me cegar, posso me recuperar; mas se for algo de dentro
que exclui a luz, quem é aquele que poderá me restaurar a vista? Já que estou
cheio de tolice desde o início da minha existência, já que faz parte da minha
natureza estar privado de entendimento, devo estar em trevas muito densas! Quão
desesperançada é a imaginação de que possa chegar a ser removida a não ser por
uma mão divina! Por mais que pensemos ou falemos, cada um de nós, pela própria
natureza, nasceu cego para as coisas espirituais; somos incapazes de perceber
Deus, incapazes de perceber o evangelho do seu Filho amado; incapazes de
entendermos o caminho da salvação pela fé de modo tão prático que sejamos salvos
por ele. Temos olhos, mas não vemos; possuímos entendimentos, mas estes estão
pervertidos de modo que são como balanças fora do eixo, ou como uma bússola que
se esquece do polo. Julgamos, mas julgamos injustamente; pela nossa natureza,
colocamos o amargo no lugar do doce, e o doce no lugar do amargo; trocamos as
trevas pela luz, e a luz pelas trevas; e isso é próprio da nossa natureza, faz
parte integrante da nossa própria constituição; não é possível tirar do homem
tais coisas, porque fazem parte do próprio homem - é a sua natureza.
Se você me
perguntar por que a natureza do homem é tão obscurecida, respondo que é porque
sua natureza inteira é perturbada pelo pecado; tendo sido pervertidas suas
demais faculdades, estas atuam contra o seu entendimento e o impedem de agir de
modo apropriado. Dentro de nós existe uma confederação da iniquidade, que ilude
o juízo e o leva cativo à disposição mental maligna. Por exemplo, nosso coração
carnal ama o pecado, a disposição da nossa alma não renovada tende ao mal. Fomos
concebidos no pecado e formados na iniquidade, e seguimos tão naturalmente o
mal quanto o porco procura a lama. O pecado exerce sobre nós um fascínio, e por
ele somos presos como as aves com o chamariz, ou os peixes com a isca. Mesmo
nós que fomos renovados, precisamos vigiar o pecado, porque nossa natureza se
inclina tão facilmente a ele. Com muita diligência e grande labuta, vamos
subindo pelas sendas da virtude, mas os caminhos do pecado são tão fáceis para
nossos pés; isso não acontece porque a nossa natureza caída se inclina naquela
direção? É só você relaxar a sua energia e soltar sua alma do ancoradouro, e
ela vai imediatamente se deixar levar para baixo, em direção à iniquidade, pois
é assim que flui a correnteza da natureza. É necessária muita energia para nos
projetar para cima, mas para baixo, descemos tão facilmente como uma pedra cai
no chão. Você sabe que é assim; o homem não é como Deus o fez; pelo contrário,
sua disposição de ânimo é corrupta. Ora, e é certo que a disposição mental muitas
vezes altera o juízo. A balança é montada de modo injusto, porque o coração
suborna a cabeça. Mesmo quando imaginamos que somos muito imparciais, temos
tendências que não percebemos. Nossa disposição, como a de Eva, seduz nosso
entendimento, e o fruto proibido é considerado bom para comer. A fumaça do amor
ao pecado deixa cego nosso olho mental. Nosso desejo é frequentemente pai das
nossas conclusões, e quando achamos que estamos julgando com equidade,
realmente estamos auxiliando nossa natureza mais baixa. Pensamos que
determinada coisa é melhor porque gostamos mais dela; não condenamos com grande
severidade certa falta porque temos a mesma tendência; nem queremos recomendar
uma certa qualidade boa porque custaria caro demais para nossa carne alcançá-la;
ou porque não alcançá-la pudesse ser um golpe forte demais contra nossa
consciência. Ah, enquanto nosso amor natural ao pecado cobre de catarata o olho
da mente, e até mesmo destrói o nervo ótico, não precisamos estranhar porque
essa cegueira não pode ser removida por nenhuma cirurgia humana.
Além
disso, nosso orgulho e autoconfiança naturais se revoltam contra o evangelho;
cada um de nós é um indivíduo muito importante. Mesmo que o nosso serviço seja
varrer a rua, possuímos uma dignidade do próprio eu que não aceita ofensas. Os
farrapos de um mendigo podem cobrir tanto orgulho quando a toga de um vereador.
A presunção não está restrita a uma única posição ou graduação na vida. Todos
nós, na soberba da nossa natureza, nos consideramos tanto grandiosos quanto
bons, e repudiamos como irracional e absurda qualquer coisa que pudesse nos
rebaixar de alguma maneira; não conseguimos ver nada assim, e ficamos zangados
quando outros a percebem. Aquele que nos leva a suspeitar que nada somos,
ensina uma doutrina difícil de ser entendida. A soberba não entende, e não quer
entender, as doutrinas da cruz, porque elas dobram os sinos de sua morte. Como
consequência da nossa autossuficiência natural, todos aspiramos entrar no céu
mediante nossos próprios esforços e merecimentos. Talvez neguemos o mérito
humano como doutrina, mas a carne e o sangue o desejam ardentemente; queremos
salvar a nós mesmos através dos sentimentos, já que não podemos fazê-lo através
das ações, e nos apegamos a isso como à própria vida. Quando o evangelho chega
com seu machado afiado e diz: "Essa árvore precisa ser derrubada! Você
produz uvas que são fel e maçãs que são venenosas, você precisa se arrepender
das suas próprias orações, você precisa chorar por causa das suas lágrimas,
seus pensamentos mais santos são ímpios, você precisa nascer de novo, você
precisa ser salvo mediante os méritos de outra pessoa, mediante o livre favor
imerecido de Deus", então, de imediato, toda a nossa hombridade, a nossa
dignidade e a nossa própria excelência se levantam, indignadas, e resolvemos
que nunca aceitaremos a salvação em semelhantes condições. A recusa assume a
forma da falta de capacidade de entender o evangelho. Não compreendemos o
evangelho, e não podemos entendê-lo, porque o conceito que temos de nós mesmos
se interpõe como obstáculo no caminho. Começamos com idéias errôneas a respeito
do nosso próprio eu, e assim tudo se transforma em confusão, e nós mesmos somos
cegados.
Além
disso, amados, uma razão pela qual nosso entendimento não vê as coisas
espirituais, e não pode mesmo enxergá-las, é porque as coisas espirituais nos
chegam pelos nossos sentidos. Imaginemos que alguém adote uma régua de trinta
centímetros como seu padrão de tudo o que existe na natureza, e concebamos que
esse homem, com essa régua no bolso, se torne astrônomo. Ele olha através do
telescópio e observa as estrelas fixas. Quando ele tira a sua régua, dizem-lhe
que essa régua está totalmente fora de propósito em conexão com a abóbada
celeste, que ele deve deixar de lado os metros e centímetros e calcular em
termos de milhões de quilômetros. Ele fica indignado por tamanho fanatismo. É
um homem de bom-senso, e uma régua de trinta centímetros é uma coisa que ele
consegue ver e manipular; os milhões de quilômetros são questões de fé, posto
que ninguém jamais viajou por to-dos eles, e ele não acredita neles. Esse homem
fecha seus próprios olhos; seu entendimento não pode se desenvolver dentro de
tais parâmetros. É assim que medimos o trigo de Deus com nossa própria cesta;
não podemos ser levados a acreditar que "assim como os céus são mais altos
do que a Terra, assim os seus caminhos são mais altos do que os nossos
caminhos, e os seus pensamentos são mais altos do que os nossos
pensamentos." Se achamos que é difícil perdoarmos, sonhamos que Deus está
na mesma situação. Propomonos a medir o oceano do amor divino em termos de
quantos dedais ele enche, e quanto às verdades sublimes da revelação, nós as
estimamos em termos de gotas no balde. Nunca poderemos alcançar os pensamentos
e as coisas de Deus, enquanto persistimos em julgar segundo a vista dos olhos,
segundo a medida de uma mente carnal, amarrada à terra.
Além
disso, nosso entendimento também ficou desarmado e desgrenhado por estarmos tão
distantes de Deus, de modo que, como consequência, não cremos nele. Se
habitássemos perto de Deus e reconhecêssemos que nele vivemos, nos movimentamos
e existimos, aceitaríamos como verdade tudo o que ele falou, porque foi ele
quem falou; e nosso entendimento seria esclarecido imediatamente pelo seu
contato com a verdade e com Deus. Mas, agora, pensamos em Deus como uma pessoa
remota; por natureza, não temos nenhum amor por ele, nem nos importamos com
ele. Para alguns pecadores, a melhor notícia que poderiam receber seria que
Deus tivesse morrido; eles se regozijariam com isso mais do que com qualquer
outra coisa, com a idéia de que Deus não existisse. O tolo sempre diz "não
há Deus" no seu coração, mesmo quando não ouse dizer isso com a sua
língua. Todos nós, segundo a nossa natureza, gostaríamos de estar livres de
Deus; é somente quando o Espírito de Deus vem e nos aproxima de Deus, e nos dá
fé no nosso Pai celeste, que nos alegramos e nos regozijamos nele, e
conseguimos entender a sua vontade.
Por isso,
nossa natureza inteira, por ser caída, opera para cegar os nossos olhos, e,
portanto, a abertura do olho do entendimento humano para as coisas divinas
permanece sendo uma impossibilidade para qualquer poder que não seja divino.
Acredito que alguns irmãos pensem que se pode abrir os olhos cegos do pecador
mediante a retórica. Seria a mesma coisa ter esperança de cantar a uma pedra
até dotá-la de sensibilidade. Sonham que você deve encantar um homem com
linguagem teórica esplêndida, e então as escamas cairão dos seus olhos. O auge
é de engenhosidade maravilhosa, e a peroração, mais maravilhosa ainda; se os
homens não se deixam convencer assim, o que surtiria efeito? Terminar um
discurso com uma exibição de fogos de artifício, isso não iluminará? O triste é
que bem sabemos que os pecadores têm sido ofuscados mil vezes por toda a
pirotecnia da oratória, mas não deixaram de permanecer tão espiritualmente
mortos como antes. Alguns têm sustentado a noção de que devemos fazer a verdade
penetrar nas mentes das pessoas mediante argumentos; que se você conseguir
colocar as doutrinas do evangelho diante delas de forma clara, lógica e
demonstrativa forçosamente irão ceder. Mas, na realidade, ninguém tem seus
olhos abertos por meio de silo-gismos. A razão, por si mesma, não dá a ninguém
o poder de ver a luz do céu. Sem a graça de Deus, as declarações mais claras e a
exposição mais singela são igualmente em vão.
Dou
testemunho de que tentei tornar a verdade "clara como água", como diz
nosso provérbio, mas meus ouvintes não a enxergaram apesar de tudo. A melhor
declaração da verdade não removerá, por si só, a cegueira de nascença, nem
capacitará os homens a olharem para Jesus. Nem os mais sinceros apelos
evangélicos, nem os mais veementes testemunhos da sua verdade convencerão o
entendimento das pessoas. Todas essas coisas têm seu devido lugar e seu uso,
mas não têm poderes intrínsecos de iluminar o entendimento de modo salvífico.
Trago meu amigo cego a certo lugar elevado e o convido a contemplar aquela
paisagem. "Veja como o rio prateado vai costurando seu caminho através dos
campos cor de esmeralda. Veja como aquelas árvores ali formam um bosque cheio
de sombras; veja com quanta sabedoria aquele jardim, mais perto, é cultivado
com perfeição; e com quanta nobreza o castelo senhorial distante se eleva
naquela colina de beleza incomparável." Veja: ele sacode a cabeça; não tem
nenhuma admiração pela cena. Lanço mão de expressões poéticas, mas nem assim
ele compartilha do meu deleite. Experimento palavras singelas e lhe digo:
"Ali está o jardim, lá está o castelo, e ali está o bosque, e o rio - você
não os vê?" "Não", ele não consegue ver nenhum deles e nem sabe
qual a aparência deles. O que está de errado com esse homem? Não descrevi bem a
paisagem? As minhas explicações não foram boas? Não lhe dei meu próprio
testemunho de que andei por aquela senda no bosque e que velejei naquele rio?
Ele sacode a cabeça, e minhas palavras foram em vão. Cheguemos à seguinte
convicção a respeito dos pecadores - senão martelaremos sem nada conseguir:
tenhamos a certeza de que existe algo de errado com o próprio pecador que nós
não conseguimos curar, e seja o que fizermos com ele, não conseguiremos que ele
seja salvo antes que seja curado aquele mal. Sentamos esse fato, pois ele nos
forçará para fora de nós mesmos; ele nos levará ao nosso Deus, nos obrigará a
recorrer ao forte para receber forças, e nos ensinará a buscar um poder além do
nosso e é então que Deus nos abençoará, porque então teremos a certeza de dar
toda a glória ao seu nome.
Mas devo
deixar esse caso: e o caso da cegueira arraigada na natureza, e que não pode
ser afetada pela perícia humana.
II. Agora,
dedicaremos um pouco de atenção ÀS ESPECIALIDADES DA CURA, não exatamente da cura desse homem, mas da cura de muitos que
temos visto; e a primeira é:usualmente é levada a efeito pelos meios mais
simples. Os olhos do homem foram abertos com um pouco de barro aplicado a eles
e então removido com a lavagem no tanque de Siloé. Deus abençoa as menores
coisas para a conversão das almas. Às vezes, o pregador acha humilhante quando,
depois de pensar: "Pois bem, realmente preguei um sermão bastante bom
daquela vez", descobre que Deus não se importa a mínima com ele ou com seu
sermão, e que foi uma observação impensada que fez na rua, que nem sequer
pensava que tivesse algum valor, que Deus abençoou; que quando pensava que
tivera o maior sucesso, ele nada fizera, e que quando pensava ter fracassado,
então Deus o abençoou. Muitas almas tiveram os olhos abertos através de uma
instrumentalidade que nunca sonhou ser tão útil; e todo o caminho da salvação
é, por si só, comparável ao barro e à saliva que o Salvador usou. Não vejo
muitas almas convertidas por tomos de teologia sistemática. Acolhemos muitos
membros novos nesta igreja, mas nunca veio uma pessoa que tivesse se convertido
por causa de um debate teológico profundo. É muito raro ouvirmos falar de um
número muito significante de conversões feitas por pregadores muito eloquentes
- raríssimo mesmo. Apreciamos a eloquência, e nada temos contra ela, mas parece
que não tem poder espiritual para iluminar o entendimento, nem agrada a Deus
usar a excelência das palavras para a conversão. Quando Paulo deixou de lado a
sabedoria humana e disse que não empregaria a excelência da linguagem, ele
simplesmente deixou de lado aquilo que não teria sido muito útil para ele.
Quando Davi deixou de lado a armadura de Saul, e pegou na funda e na pedra,
matou o gigante; e hoje, os gigantes não são vencidos por campeões vestidos da
armadura de Saul, assim como não o eram então. Precisamos nos ater às coisas
simples, ao evangelho claro, pregado com clareza. O barro e a saliva não eram
uma combinação artística, o bom gosto não era encantado por eles, nem a cultura
era gratificada, porém por essas coisas, mais uma lavagem em Siloé, os olhos se
abriram - e é assim que Deus, pela loucura da pregação, se agradou para salvar
aqueles que crêem.
Em segundo
lugar, em todos os casos se trata de uma obra divina. Neste caso, ficou
evidente que foi o Senhor Jesus Cristo que abriu, literalmente, os olhos do
homem, e, espiritualmente, é sempre a sua obra mediante o Espírito Santo. É ele
quem dá ao homem conhecer as coisas espirituais, e abraçá-las pela fé. Nenhum
olho é aberto para ver Jesus, a não ser pelo próprio Jesus. O Espírito de Deus
opera em nós todas as nossas coisas boas. Não nos afastemos dessa crença em
circunstância alguma. As exigências dos sistemas doutrinários de alguns homens
exigem que atribuam ao pecador determinada medida de poder; mas nós sabemos que
ele está morto no pecado e totalmente sem forças. Irmãos, podem alterar seu
sistema de teologia, mas não repudiem a verdade que agora está diante de nós,
pois além de ela ser revelada na Palavra de Deus, ela é confirmada pela nossa
própria experiência diária. É o Espírito que vivifica e ilumina. A cegueira da
alma somente cede diante da voz que falou na antiguidade: "Haja luz."
Em
seguida: essa abertura dos olhos é frequentemente instantânea, e quando o olho
fica aberto, vê com tanta perfeição como se sempre tivesse visto. Vi, há poucas
horas, algo que acredito ter sido a abertura dos olhos de uma alma que buscava
a Cristo. Duas interessadas me procuraram no escritório pastoral; só tinham
ouvido o evangelho aqui durante um breve período, mas ficaram impressionadas
por ele. Expressaram seu pesar por estarem de mudança para um lugar distante,
mas expressaram sua gratidão por terem tido a oportunidade de ficar aqui, mesmo
por pouco tempo. Fiquei animado pelos bondosos agradecimentos delas, mas me
senti ansioso para que uma obra mais eficaz ocorresse com elas, e por isso lhes
perguntei: "Vocês realmente crêem no Senhor Jesus Cristo? Vocês estão
salvas?" Uma delas respondeu: "Esforcei-me muito para crer."
Continuei: "Não, isso não serve. Você já falou ao seu pai que você estava
se esforçando para crer nele?" Reconheceram que semelhante linguagem teria
sido uma ofensa. Em seguida, coloquei o evangelho diante delas com muita
clareza, na linguagem mais singela que pude, mas uma delas disse: "Não
consigo me dar conta, não consigo me dar conta de estar salva." Passei,
então, a falar: "Deus dá testemunho do seu Filho e diz que quem confiar em
seu Filho está salvo. Vocês vão fazer dele um mentiroso agora, ou vocês vão
crer em sua palavra?" Enquanto eu falava, uma delas teve um sobressalto e
nos surpreendeu ao exclamar: "Senhor, vejo tudo isso; estou salva. Oh! dê
graças a Deus por mim, por me ter mostrado isso e por me ter salvado; estou
enxergando tudo." A irmã estimada que me trouxera essas jovens amigas
ajoelhou-se com elas enquanto, de todo o coração, bendizemos e engrandecemos o
Senhor. Uma das duas irmãs, no entanto, não conseguira enxergar o evangelho da
maneira que fizera a outra, embora eu tenha certeza de que ela chegue a ver.
Não parece estranho que, embora ambas escutassem as mesmas palavras, só uma
saiu para a luz clara, a passo que a outra tivesse que esperar nas trevas? A mudança
que sobrevém ao coração quando o entendimento capta o evangelho quase sempre se
reflete no rosto, e nele brilha como a luz do céu. Semelhantes almas
recém-iluminadas exclamam em muitas ocasiões: "Mas, Senhor, é tão claro;
como é que não o enxerguei antes? Agora entendo tudo quanto já li na Bíblia,
embora não me importasse com ela antes. Tudo isso surgiu num só minuto, e agora
vejo o que nunca percebi antes." Estou apenas citando um caso, porque é um
entre milhares que temos visto, no qual os olhos foram instantaneamente
abertos. Só posso comparar o pecador iluminado com uma pessoa que ficou
trancada numa masmorra escura e que nunca vira a luz, e, de repente, seu
libertador abre uma janela e o prisioneiro fica atônito e pasmado por aquilo
que vê ao olhar, lá longe, as colinas e os rios. Para o crente, a vista
outorgada da parte do céu é uma dádiva tão superlativa, e aquilo que lhe é
revelado o deixa tão assombrado, que dificilmente percebe onde está. Muito
frequentemente, quando Cristo abre os olhos das pessoas, a obra é feita num só
momento, e feita de modo completo naquele momento, embora haja casos nos quais
se trata de uma luz mais gradual; de início, os homens são vistos como árvores
ambulantes, e depois, aos poucos, uma pelica após outra é retirada do olho
espiritual.
Ora, vocês
não devem se admirar se a luz chegar de modo tão repentino que seja uma
sensação totalmente nova para o homem, e por isso o surpreender. Você se lembra
do primeiro hálito de vida espiritual que você já teve? Acho que ainda guardo
lembrança dele. Você se lembra da primeira vista que você já teve de Cristo?
Oh, por certo você se lembra dela. Existe, fixada na memória de alguns entre
nós, a lembrança da primeira vez que vimos o mar e da primeira vez que
contemplamos os Alpes, mas essas coisas não eram nada; achamos que continuavam
sendo meros pedaços deste velho mundo, e que somente vimos um pouco mais
daquilo que tínhamos visto antes; a conversão, no en-tanto, abre diante nós um
mundo novo: ela nos ensina a perscrutar o invisível e ver coisas não vistas
pelo olho mortal. Quando recebemos olhos novos, vemos mil coisas que nos deixam
totalmente atônitos, e ao mesmo tempo nos deleitam. Você estranha que os jovens
convertidos fiquem emocionados? Eu não estranho, nem condeno, pois gostaria que
houvesse um pouco mais de emoção nas nossas reuniões de culto. Quem escuta,
hoje em dia, o grito: "O que preciso fazer para ser salvo?" ou quem
escuta uma alma dizendo: "Achei aquele sobre quem Moisés escreveu na lei,
e a respeito de quem os profetas também escreveram"? (Jo 1.45). Demos
bastante liberdade à obra do Espírito de Deus, e cremos que, quando ele chegar,
os homens nem sempre agirão segundo as regras sóbrias do decoro, mas irromperão
por elas, e até mesmo cairá sobre eles a suspeita de estarem bêbados, mas por
falarem con-forme homens na sua mentalidade usual não têm a probabilidade de
estar. É uma coisa estranha e maravilhosa, para os homens, quando o Espírito de
Deus lhes abre os olhos, e não devemos estranhar que mal saibam o que dizem e
que se esqueçam de onde estão.
Uma coisa
é certa: quando os olhos são abertos, é um acontecimento muito claro para o
próprio homem. Outros podem duvidar se seus olhos foram abertos, mas ele sabe
que sim; quanto a isso, não tem a mínima dúvida. Quando o Senhor, na sua
infinita misericórdia, visita um espírito que passou longo tempo encerrado na
escuridão, a transformação fica sendo tão grande, que ele não precisa
perguntar: "Estou transformado, ou não?", mas ele mesmo recebe da sua
própria consciência a garantia disso.
Uma vez
que o homem recebeu olhos para ver, possui uma faculdade que é capaz de uso
abundante. O homem que consegue ver os fariseus, não demoraria muito para ver
Jesus. Aquele cujos olhos foram abertos, consegue ver, não somente as árvores e
os campos ao seu redor, mas também consegue contemplar os céus e o sol
glorioso; e uma vez que alguém recebe luz espiritual, possui imediatamente
capacidade para enxergar os mistérios divinos; verá o mundo do porvir, e as
glórias que ainda serão reveladas. Aqueles olhos recémcriados são os que verão
o Rei na sua beleza, e a terra que está muito distante; tem a faculdade de tudo
quanto será contemplado no dia da revelação do nosso Deus e Salvador Jesus
Cristo.
Oh, que
obra maravilhosa é esta! Que todos nós o conheçamos pessoalmente. Faço esta
pergunta: Nós a conhecemos? Nossos olhos já foram abertos assim?
III. E,
por fim, chegamos ao terceiro tema: A CONDIÇÃO DO HOMEM CURADO.
Quando
seus olhos acabaram de ser abertos, tinha fortes impressões em favor do ser
glorioso que o curara. Ele não sabia quem era esse ser, mas sabia que era uma
pessoa muito boa, talvez um profeta, e quando chegou a conhecê-lo melhor, tinha
certeza de que era o próprio Deus, e prostrou-se e o adorou. Ninguém nunca teve
seus olhos abertos assim sem sentir amor intenso por Jesus, e, mais ainda, sem
crer na sua divindade, sem adorá-lo como o Filho de Deus. Não queremos ser
descaridosos, mas ainda nos sobra um pouco de bom-senso. Nunca conseguimos
enxergar como um homem pode ser cristão sem crer em Cristo, nem como se pode
dizer que um homem crê em Cristo quando crê apenas minimamente nele - acolhe
sua humanidade, mas rejeita a sua divindade. Precisa haver uma fé verdadeira no
Filho de Deus, e uma pessoa continua cega e nas trevas se não se prostrar, como
fez o homem nesta história, e adorar ao Deus vivo, contemplando a glória de
Deus na face de Jesus Cristo, dando glória a Deus porque achou tanto um
Príncipe quanto um Salvador na pessoa de Jesus Cristo, que entregou a sua vida
em favor do seu povo. Oh! tenho certeza de que os olhos de vocês foram abertos,
que vocês amam a Jesus hoje, vocês sentem seu coração estremecer só ao pensar
nele, e sua alma inteira o busca, que vocês estão convencidos de que, já que
ele lhes abriu os olhos, aqueles olhos pertencem a ele, bem como a totalidade
do ser de cada um de vocês.
Esse
homem, portanto, passou, a partir daquele momento, a ser um confessor de
Cristo. Eles o interrogaram, e ele não falou envergonhado, nem escondeu as suas
convicções, mas respondeu prontamente às perguntas. Estevão foi o primeiro
mártir, mas esse homem era certamente o primeiro confessor, e diante dos
fariseus ele expressou o caso de modo nítido e inteiro, na cara deles, em
linguagem singela. E da mesma maneira, amados, se o Senhor nos abriu os olhos,
não hesitaremos em declarar o fato. Ele o tem feito, bendito seja o seu nome!
Nossa língua bem mereceria ser ferida de silêncio eterno se hesitássemos em declarar
o que Jesus tem feito por nós. Exorto vocês, que receberam graça da parte de
Cristo Jesus, a se tornarem confessores da fé, a reconhecerem Cristo, conforme
devem fazer. Sejam batizados e reunidos com o povo de Cristo, e depois, seja em
que companhia estiverem, e por mais que as outras pessoas falem a favor dele ou
contra ele, tomem posição e digam: "Ele abriu meus olhos e bendigo o seu
nome."
Agora,
esse homem se torna defensor de Cristo, além de confessor; e um defensor muito
capaz, também, porque os fatos que lhe serviam de argumentos deixavam
frustrados os seus adversários. Diziam uma coisa e outra, mas ele respondeu:
"Não me cabe definir se essas coisas são a verdade, mas Deus atendeu a
esse homem, portanto, esse homem não é pecador como vocês dizem; ele abriu os
meus olhos, por isso, sei de onde ele provém: ele forçosamente veio da parte de
Deus." Faz muito tempo que estamos argumentando contra a infidelidade
teológica, heresia, com argumentos que nunca conseguiram nada. Acredito que os
céticos catam no chão suas flechas embotadas e as atiram de novo contra o
escudo da verdade; receio que o púlpito cristão tenha sido o grande instrutor
na heresia por temos ensinado aos nossos membros argumentos que eles nunca
teriam conhecido se nós não os tivéssemos repetido com a idéia de respondermos
a eles. Mas, amados, vocês nunca poderão enfrentar a infidelidade teológica a
não ser com fatos. Con-tem o que Deus tem feito em favor de vocês, e comprovem
isso com sua vida de santidade. Contra as vidas santas dos cristãos, a
incredulidade não tem poder. Fiquem em falange cerrado, cada um com sua espada
do viver cristão, revestidos da armadura do poder do Espírito Santo, e os
ataques feitos pelos seus inimigos, pois mais desesperada que seja a
malignidade dele, fracassarão totalmente. Que Deus nos conceda, assim como
concedeu a aquele homem, que aprendamos a arte de argumentar em favor de Cristo
mediante o testemunho pessoal.
Pois bem,
aconteceu que aquele homem cujos olhos foram abertos, foi expulso da sinagoga.
Os pássaros salpicados sempre são expulsos à força pelos demais. Uma das piores
coisas que pode acontecer com um homem, neste mundo, é saber demais. Se você
não consegue se manter em dia com os tempos atuais, você pode ser tolerado,
mas, se você ficar em pouco à frente do seu tempo, poderá esperar receber maus
tratamentos. Seja cego entre os cegos, é o próprio ditame da prudência se é
para você salvar a sua pele. É algo inseguro manter os olhos abertos entre os
cegos, posto que estes não acreditarão nas suas asseverações, e você será
considerado muito dogmático, e, uma vez que eles nada enxergam, vocês não têm
nenhuma base em comum para o argumento, e chegarão imediatamente a altercações;
e se os cegos forem maioria, as probabilidades são que você seja expulso pela
porta ou pela janela, e que tenha de viver alhures. Quando Deus abre os olhos
de um homem para enxergar coisas espirituais, os outros logo dizem: "De
que esse elemento está falando? Nós não vemos o que ele vê", e se esse
homem for muito ingênuo, volta-se a esses cegos, e diz: "Vou lhes explicar
agora." Caro amigo, você desperdiçará os seus esforços, pois eles não
conseguem ver. Se um homem for cego de nascença, você não precisará falar com
ele a respeito da escarlata e da malva e da magenta, pois ele não consegue
entender você, e não sabe nada a respeito. Vá caminhando adiante, pois arrazoar
com ele não surtirá efeito; a única coisa que você poderá fazer em favor dele é
levá-lo para onde ele possa receber a abertura dos seus olhos. Debater com ele
é totalmente inútil, pois ele não tem faculdades para isso. Se você soubesse
que uma pessoa fora destituída de paladar, você não discutiria com ela por ela
dizer que o açúcar tem o mesmo gosto que o sal: ela nem sabe o que significa
"doce" nem o que significa "salgado", mas emprega as
palavras sem compreendê-las. E um homem que não tem graça no seu coração não
sabe nada a respeito da religião, e nem poderá saber. Ele capta as frases, mas
não sabe tanto a respeito da verdade quanto o botânico que nunca viu uma flor
sabe a respeito da botânica, ou quanto um surdo sabe a respeito da música.
Procure não discutir com essas pessoas, creia que são incapazes de aprender com
você através do raciocínio, mas recorra ao Espírito Santo de Deus, e clame a
ele: "Senhor, abre-lhes os olhos! Senhor, abre-lhes os olhos!" Seja
paciente com elas, porque você não pode esperar que os cegos vejam, nem deve
ficar zangado com eles por não verem. Mas fique em espírito de oração em favor
deles, e leve a eles o evangelho no poder do Espírito Santo, e então, é
possível que seus olhos sejam abertos. Mas não estranhe se disserem que você é
fanático, um entusiasta, um metodista, presbiteriano, artificial, hipócrita -
palavras que os espiritualmente cegos lançam contra aqueles que conseguem ver.
Você diz ter uma faculdade que eles não possuem; eles, portanto, negam a
existência dessa faculdade porque não gostariam de reconhecer que você tem
vantagem sobre eles, e assim, expulsam você da sinagoga.
Mas
notemos que foi quando esse homem foi expulso da sinagoga que Jesus Cristo o
achou. Foi uma perda bendita para ele, portanto: perdeu os fariseus e achou seu
Salvador. Ó irmãos, é uma grande bênção quando o mundo realmente nos expulsa!
Lembro-me de uma senhora excelente, com título de nobreza, e que agora está no
céu; quando ela se afiliou a esta igreja, foi abandonada por todas aquelas
pessoas de alta categoria que antes se associavam a ela; e eu lhe disse, e ela
compartilhou do meu sentimento: "Que bênção que você está livre deles!
Eles poderiam ter sido uma arapuca para você. Agora (falei) você terá mais
problema com eles." "Sim", e ela acrescentou: "Por amor a
Cristo eu me satisfaria em ser considerada a escória de todas as coisas!"
A alta sociedade deste mundo nunca foi de nenhum benefício para nós, e nunca o
será, e a tentativa de ser muito chique e de conviver nessa "alta"
sociedade e com tudo que está envolvido nela é o laço e o tropeço para muitos
cristãos. Estime os homens segundo seu valor real, e não pelo seu papel
alumínio dourado, e considere como os homens mais grandiosos aqueles que são os
mais santos e, como a melhor companhia, aqueles que mantêm companhia com
Cristo. Para a igreja, é uma grande bênção quando ela é perseguida. Quanto a
isso, poderíamos ficar contentes a termos de volta os dias de Diocleciano. A
igreja nunca é mais pura, nunca mais íntegra, nunca mais devota, e nunca cresce
mais rapidamente do que quando desfruta do mau conceito da sociedade; mas
quando passamos a ser consideradas pessoas excelentes, e nossa igreja for honrada
e estimada, e respeitada, instala-se a corrupção, afastamo-nos de Cristo, e
comprovamos de novo que a amizade do mundo é inimizade contra Deus. Conceda o
Senhor que tenhamos os olhos tão bem abertos que nosso testemunho provoque
contra nós a acusação de excentricidade, pois assim, uma vez excluídos do
convívio daqueles que não conseguem enxergar o Senhor, possamos viver tanto
mais perto dele, e isso nos será grande lucro.
O Senhor
os abençoe, amados, por amor a Jesus Cristo. Amém.
LucioFidalgo
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