Watchman Nee
(1903-1972)
‘Eu sou
o caminho, a verdade e a vida’ diz o Senhor Jesus. Somos informados de forma
clara que o Caminho que Deus provê é Cristo, a Verdade que Deus revela é Cristo
e que a Vida que Deus concede, é, do mesmo modo, Cristo. Jesus é o nosso
Caminho, nossa Verdade e nossa Vida. É através de Jesus que vamos ao Pai. No
coração de Deus, aquilo que está relacionado a Ele é Jesus. Ele não nos deu
muita coisa fora de Jesus.
Em assuntos espirituais,
frequentemente lidamos com questões que se tornam vazias e sem qualquer
utilidade espiritual para nós. Precisamos então pedir a Deus que abra nossos
olhos de modo que possamos conhecer Jesus. A essência do cristianismo reside no
fato de sua fonte, profundidade e riqueza estarem vinculadas ao conhecimento do
Filho de Deus. Não importa o quanto sabemos de doutrinas, métodos ou poder; o
que realmente importa é conhecer o Filho de Deus.
Watchman Nee, 1947
Sem dúvida, todos os cristãos que buscam
crescimento espiritual, de meados do séc. XX a este presente momento, já foram
de algum modo, direta ou indiretamente, abençoados pelo ministério confiado por
Jesus a este homem, cuja vida foi marcada por terríveis sofrimentos, exatamente
como diz a Bíblia: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus
padecerão perseguições” (2Tm 3:12).
Watchman Nee teve uma vida marcada pela
pobreza, doença, perseguições, martírios e uma prisão que durou 21 anos, da
qual não saiu vivo. Foi condenado em 1952 e ficou preso por 21
anos e após foi morto, provavelmente por fuzilamento, por ordem do governo
comunista chinês, tudo isto por ter sido acusado do “crime” de pregar o
evangelho de Jesus. Na prisão, seis meses antes de sua morte, recebeu a notícia
do falecimento de sua esposa Charity Chang, fato que lhe causou muito
sofrimento, pois muito a amava. Mas, talvez o pior de todos os
sofrimentos que sofreu tenha sido o desprezo, oposição e calúnias provindas dos
próprios “cristãos”. Como todo profeta, foi rejeitado e mal
interpretado por sua geração. Todavia, tudo isso ele vivenciava sem murmuração
ou cobrança de justiça própria. Encarava tudo como oportunidade de praticar a
cruz. Este homem era um daqueles “do qual o mundo não era digno” (Hb 11:38).
Pouco tempo antes de morrer, conseguiu fazer chegar aos irmãos um bilhete na
qual reafirmava sua fé e sua fidelidade a Cristo. Por muitas vezes teve a
promessa da liberdade, caso se comprometesse a não pregar mais o evangelho,
coisa que se recusou a fazer.
É espantoso como Deus perpetua os ministérios conferidos
por ele. Como a perseguição e a crueldade não conseguiram aprisionar o impacto
da vida de um homem lúcido, que via com clareza as implicações da centralidade
de todas as coisas na pessoa de Jesus. Certamente Nee morreu na prisão chinesa
convicto que sua obra, como ministro do Senhor, tinha acabado ali. Talvez não imaginasse
que suas palavras continuariam a atravessar os anos e promovendo tremenda
edificação, não só para a igreja na China, mas em todos os continentes e em
dezenas de idiomas. Satanás tentou minar a obra que o Senhor fez através
dele, mas fracassou, como sempre, ao tentar impedir o curso da Palavra de Deus.
Seus arrogantes algozes já foram para a sepultura, para o esquecimento e para o
tribunal de Cristo, ao passo que Nee seguiu para a seletíssima fileira daqueles
que reinarão com Cristo. Como disse Tozer: “A ressurreição e o juízo
demonstrarão perante os mundos todos, quem ganhou e quem perdeu. Podemos
esperar”.
Nee Shu-Tsu: Este é o nome que recebeu ao nascer,
cuja versão inglesa é ‘Henry Nee’. Nasceu em Fochow (China), em 04 de novembro
de 1903. Teve o privilégio de ser a segunda geração de cristãos de sua família.
Na noite em que sua mãe constatou que estava grávida, fez uma aliança com Deus,
consagrando o fruto de seu ventre, caso fosse menino, para pertencer ao Senhor
em todos os dias de sua vida. Assim, ele veio ao mundo debaixo dessa aliança. Quando
iniciou seu ministério, aos 20 anos de idade, sua mãe, em função da lembrança
concernente à aliança feita com Deus, pediu que em seu ministério ele fosse
conhecido como um vigia, alguém que está bem acordado enquanto outros dormem,
um atalaia. Assim, passou a ser um Vigia-Nee, ou Nee To-Sheng na sua língua
natal, sendo Watchman Nee a versão inglesa do seu novo nome.
Podemos dizer que a oração de sua mãe teve um
caráter profético, pois, o ministério de Watchman Nee foi marcado pela lucidez
espiritual e visão sobre o estado real da igreja e seu afastamento da verdade
da Palavra de Deus. Sem dúvida, ele foi um dos grandes profetas que Deus
levantou nos últimos tempos que antecedem a volta de Cristo. O estudo dos
livros que reproduzem suas ministrações é uma experiência marcante para a vida
do cristão que está em busca de alimento sólido.
Não só sua mãe teve um importante papel na sua trajetória.
Nee foi bastante abençoado por algumas pessoas:
- Dora
Yu
Irmã evangelista na China. Tinha verdadeiro ardor
pela pregação do evangelho. Saia de rua em rua, casa em casa, pregando o
evangelho de Jesus. Em fevereiro de1920 foi a Fuchow, e ao pregar para um grupo
de pessoas, teve como resultado a conversão do jovem Watchman Nee. A
mensagem de Dora Yu era tão inspirada pelo Espírito Santo, que ao final de cada
reunião o piso do salão ficava molhado com as lágrimas dos ouvintes.
- Margareth
Barber
Esta irmã, inglesa, servia ao Senhor na China e era
alguém cheia da vida de Cristo. Foi poderosamente usada pelo Senhor na vida de
Watchman Nee no tocante a revelação da cruz de Cristo e ao fato de que formos
crucificados juntamente com Ele. Estes primeiros anos, sob a influência da irmã
Margareth Barber, foram decisivos para a visão que Watchman Nee recebeu mais
tarde sobre a vida do ego (alma).
- Theodore
Austin Sparks
Este precioso irmão e profeta de Deus, tornou-se
para Watchman Nee um amigo e conselheiro. Encontraram-se pela primeira vez em
1937, foram separados por causa da segunda guerra mundial, mas, tão logo ela
acabou voltaram-se a se relacionar. Entre 1946 e 1950 viajaram juntos para
muitas localidades, em abençoados encontros. O Senhor fez uma tremenda obra
através da união desses dois profetas.
Watchman Nee foi ainda muito influenciado pela vida
de Madame Guyon (que viveu no séc. XVII), D. M. Panton, Elizabeth
Fischbacker, Jessie Penn-Lewis e pelos escritos de G. H. Pember.
Um fato que marcou a vida de Watchman Nee foi a
grave enfermidade de que padeceu de 1924 a 1927. Estava tuberculoso e
extremamente debilitado. Nesse período de muito sofrimento, o qual ele pensava
ser o fim de sua vida e ministério, escreveu o único livro que redigiu do
próprio punho: “O homem espiritual”. Todas as outras dezenas de publicações que
levam o seu nome advieram do registro que as pessoas faziam de suas
ministrações. Para a glória do Senhor foi curado de forma sobrenatural, tendo
seguido com seu precioso ministério, embora carregando uma sequela da doença:
um grave problema cardíaco. Mas isto não impedia de realizar a obra do Senhor,
mesmo que muitas vezes tivesse que descansar por causa das fortes dores que
sentia.
Após sua cura, mudou-se para Xangai e lá prosseguiu
com seu ministério. Dois periódicos, Revistas Testemunho Atual e O Cristão,
divulgavam suas mensagens. O Senhor abençoou sua vida lá, e no início de 1950
já havia mais de 500 localidades com a presença da igreja do Senhor, que se
dividiam em grupos caseiros chamados de ‘little flocks’, ou seja, ‘pequenos
rebanhos’.
Em 1941, com a ocupação de Xangai pelos japoneses,
foram impostas restrições sobre os membros da igreja e as finanças foram
reduzidas, antecipando o que ainda estava por vir. Nee e seu irmão
estabeleceram uma empresa farmacêutica para ajudar a complementar as
necessi-dades financeiras da igreja.
Em 1949 o Partido Comunista Chinês derrubou o
governo nacionalista e proclamou a República Popular da China. No começo, a
igreja ficou esperançosa com o novo governo, mas após dois anos a situação
começou a mudar quando os comunistas revelaram os seus planos de controlar a igreja.
Através de seu Movimento da Reforma da Tripla
Autonomia, o governo visava tornar a igreja autogovernada, auto-sustentada e
autopropagada. Ela foi colocada sob a autoridade da Agência de Assuntos
Religiosos, a qual pressionou a igreja a persuadir os missionários a deixarem a
China. O governo proibia: ensino bíblico para as crianças, pregação do
evangelho nas ruas, reunião nas casas, distribuição de Bíblias, mais de uma
reunião por semana e reuniões sem a participação de um espião do governo. O
livro do Apocalipse foi banido pelo governo, bem como diversos textos das
escrituras. Quando o pastor, credenciado pelo governo, adoecia ou se afastava
por algum motivo, o governo mandava um substituto temporário, que por vezes era
até um ateu.
Durante esse tempo, as igrejas domésticas resistiram bravamente a se unir à Igreja Cristã Nacional, um fantoche sob o controle do governo comunista, criada para cumprir suas ordens e tentar minar o evangelho de Cristo. Milhares de irmãos foram mortos ou feitos prisioneiros. Frequentemente infiltrada por informantes comunistas, as igrejas domésticas eram forçadas a realizar reuniões para encorajar a autocrítica e a reforma. Os pastores foram acusados de traidores e Nee logo foi acusado de liderar um grande sistema secreto que distribuía veneno anti-revolucionário.
Em 1952 Nee foi preso e submetido a quatro anos de “reeducação”. Antes de ser preso, ele ajudou a organizar várias igrejas subterrâneas. Em 1956 ele e outros membros da igreja foram condenados a quinze anos na Primeira Prisão Municipal de Xangai.
Durante esse tempo, as igrejas domésticas resistiram bravamente a se unir à Igreja Cristã Nacional, um fantoche sob o controle do governo comunista, criada para cumprir suas ordens e tentar minar o evangelho de Cristo. Milhares de irmãos foram mortos ou feitos prisioneiros. Frequentemente infiltrada por informantes comunistas, as igrejas domésticas eram forçadas a realizar reuniões para encorajar a autocrítica e a reforma. Os pastores foram acusados de traidores e Nee logo foi acusado de liderar um grande sistema secreto que distribuía veneno anti-revolucionário.
Em 1952 Nee foi preso e submetido a quatro anos de “reeducação”. Antes de ser preso, ele ajudou a organizar várias igrejas subterrâneas. Em 1956 ele e outros membros da igreja foram condenados a quinze anos na Primeira Prisão Municipal de Xangai.
Ele deveria ter sido posto em liberdade em 1967,
durante a Revolução Cultural, mas teve a sentença ampliada, e o governo deu
início a outro ataque furioso contra a igreja. Os cultos foram interrompidos e
todos os edifícios religiosos deveriam ser “secularizados”. Os comunistas
prometeram libertar Nee se ele concordasse em não voltar a pregar. Nee não
aceitou e foi transferido para outra prisão onde acabou sendo morto em 1972.
Um relato da sobrinha do irmão Nee, a qual
acompanhava a irmã mais velha da Sra. Nee:
‘Em junho de 1972, nós recebemos uma nota da
fazenda de trabalhos forçados avisando que o meu tio-avô havia falecido. A mais
velha das minhas tias-avós e eu corremos para a fazenda de trabalhos forçados.
Porém, quando nós chegamos lá, soubemos que ele já havia sido cremado. Nós
pudemos apenas ver as suas cinzas... Antes de ser morto, ele deixou um
pedaço de papel debaixo do seu travesseiro com várias linhas de palavras
grandes escritas com uma mão trêmula. Ele queria testificar a verdade que ele
havia experimen-tado por toda a sua vida, até mesmo na hora da sua morte. Esta
verdade é — “Cristo é o Filho de Deus que morreu pela redenção
dos pecadores e ressuscitou depois de três dias. Esta é a maior verdade do
universo. Eu morro por causa da minha fé em Cristo - Watchman Nee".
Quando o oficial da fazenda nos mostrou este papel, eu orei ao Senhor que me
deixasse decorá-lo rapidamente...’.
Quando Satanás ceifou a vida terrena de Jesus,
pensou que estava triunfando, sem saber que a semente deve morrer para que
brote a vida. Assim acontece com os preciosos filhos de Deus, aos quais Deus
conferiu um ministério, ele o fará prosperar ao longo dos anos e séculos, mesmo
que, aparentemente, as trevas pensem que triunfaram.
LucioFidalgo
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