sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Como o cristão deve encarar a morte?




                                 Como o cristão deve encarar a morte?
  






Recordando-me das minhas aulas da pré-escola e do ensino fundamental, lembro-me claramente das minhas professoras descrevendo o que chamavam de “ciclo da vida”: o ser vivo nasce, cresce, reproduz-se e morre. A idéia biológica por trás disso tudo é que a vida tem um início e um fim, e contra tais fatos não poderíamos argumentar nem esbravejar. É a lei da natureza, diriam.
De fato, a nossa percepção humana parece corroborar essa idéia. Vemos o nascimento como o início da vida humana e a morte, como o seu fim inevitável e derradeiro. A sensação que todos nós possuímos, uns mais claramente, outros mais discretamente, é a de que precisamos aproveitar a vida ao máximo, antes que venha o terrível dia em que outros dirão de nós: “Ontem ele era, e hoje já não é mais”. Carpe diem, pois a vida é curta, e o tempo não pára.
Por este ângulo, a morte é o grande inimigo de todo ser humano. A morte é a cruel senhora de vestes negras e foice à mão, esperando a ocasião oportuna para nos ceifar, pondo fim à nossa existência, nos tomando para si antes que possamos dizer “Adeus”, nos impedindo de realizar nossos sonhos e projetos, e o pior de tudo: nos afastando daqueles a quem amamos, definitivamente.
Mas será que é mesmo assim? Esta realidade que percebemos com nossos sentidos e instintos naturais é mesmo a realidade das coisas? Ou será que não? Esta vida é tudo, ou existe algo mais?
Bem, como Cristãos verdadeiros, nós dizemos que existe muito mais. E é isso que veremos neste estudo. Como o Cristão pode, e deve, encarar este fato tão temido por todos que é a morte?
Vejamos primeiro, de forma simples e sintética, como definimos um Cristão verdadeiro:
1. É aquele que crê na Bíblia como a Palavra de Deus, perfeita e infalível;
2. É aquele que experimentou a salvação por meio da fé em Jesus Cristo, na obra de sua cruz e na sua ressurreição gloriosa;
3. É aquele que, uma vez salvo pela fé, possui uma contínua experiência relacional com o Espírito Santo, sendo guiado por ele;
4. É aquele que, através da condução do Espírito, não somente crê na Bíblia, mas está aberto à ação da Palavra de Deus, deixando-se ser corrigido e moldado por ela – ou seja, é aquele que
vive a Palavra por meio do Espírito.
Ora, se um cristão é alguém que vive DA Palavra, NA Palavra e PELA Palavra, então a resposta para esta nossa pergunta – como o cristão deve encarar a morte? – só pode ser encontrada lá, na Palavra de Deus, eterna e imutável. Sendo assim, vejamos aquilo que a Bíblia nos ensina sobre o tema.
1. A MORTE É UM INIMIGO DESTRUÍDO
“[Deus] que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho (2Tm 1.9-10)
Esta afirmação deveria queimar no coração de cada crente todo o tempo de sua existência terrena: a morte é um inimigo vencido.
De Adão até imediatamente antes de Cristo, a humanidade estava sob o jugo das trevas. Satanás era o seu governante; o pecado, o seu senhor; e a morte, a sua condenação. Não havia escapatória, a não ser a esperança do cumprimento da promessa de Deus: Ele enviaria um Salvador para desfazer este quadro.
A partir de Cristo, tudo muda! Surge uma luz, uma esperança, uma alternativa! Embora satanás, o pecado e a morte continuem imperando sobre os filhos de Adão, Deus abre uma brecha e convoca a todos que venham para a luz, deixem de ser filhos da ira e se tornem Seus filhos amados por meio da fé em Jesus Cristo. Aqueles que forem feitos filhos de Deus estarão livres do poder de satanás, do jugo do pecado e do salário da morte.
Jesus se manifesta ao mundo, afirmando categoricamente: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. Ora, a morte pode ser o grande inimigo daqueles que estão no mundo. Mas, para nós, a morte já foi destruída quando Cristo, após passar três dias sob o seu “domínio”, ressuscitou, colocando todas as coisas debaixo dos seus pés. Aqueles que estão sem Cristo jamais compreenderão isto, mas nós, que nEle vivemos, sabemos que a morte não tem mais domínio sobre nossas vidas. Jesus trouxe à luz a vida e a imortalidade, quando entregou-se por nós na cruz e, tendo consumado tudo, ressurgiu para a glória de Deus Pai.
É interessante notar que, embora o texto acima diga que Jesus já destruiu a morte, 1Co 15.26 diz que a morte é um inimigo “a ser destruído”. Por quê?
A discrepância se deve ao fato de que nós, cristãos, ainda experimentamos a morte. Todavia, tal experiência para nós é apenas momentânea e parcial. Este paradoxo “já destruído” versus “a ser destruído” fica esclarecido nas palavras de Jesus: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. Ora, de fato, todos os crentes, a não ser aqueles que estarão presentes na vinda do Senhor Jesus, experimentarão a morte. Mas esta experiência não é para nós nada mais do que uma breve passagem, tão breve que o apóstolo Paulo diz que tais crentes apenas “dormem”.
Os filhos de Adão, que pertencem ao mundo e ao pó, voltam ao pó, que é a quem pertencem. Porém nós, que somos de Cristo, nascemos de Cristo e tornaremos para Cristo. Aleluia! Nossa morte não é eterna, é apenas um “sono”, um cochilo, um breve intervalo entre a nossa existência corpórea natural e a nossa existência corpórea glorificada. E, como se isso já não fosse bom o suficiente: mesmo mortos, os crentes já estão desfrutando do antegozo da vida eterna, num local que a Bíblia chama de “Seio de Abraão”, aguardando a redenção do nosso corpo, quando iremos definitivamente experimentar tudo o que Deus tem preparado para nós. Sendo assim, por que teríamos medo da morte? Por que nos afligiríamos diante dela? Cristo já a venceu, e nós também já a vencemos, em Cristo! Glórias a Jesus!
2. A MORTE É O CAMINHO NECESSÁRIO PARA A COMPLETA EXPERIÊNCIA DE VIDA COM DEUS
“Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. [...] Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: ‘Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?’ (1Co 15.50,53-55)
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito. Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que vemos.” (2Co 5.1-7)
Há um segundo fato extremamente relevante para o cristão naquilo que diz respeito à morte. Se, anteriormente, ainda falamos da morte como um inimigo vencido, agora diremos que a morte é uma passagem necessária. Seria preciso aprofundarmos-nos um pouco mais nas Escrituras para entender plenamente tal assertiva, mas não faremos isso agora.
Digamos apenas o seguinte: o corpo que agora possuímos é natural, terreno e corruptível. A nossa experiência de salvação ainda é incompleta, porque se aperfeiçoou apenas no nosso espírito e ainda se desenvolve na alma. A salvação do corpo é para nós apenas a promessa de que o atual corpo corruptível será glorificado, transformado num corpo dotado de imortalidade e incorruptibilidade. Mas isso não aconteceu ainda.
Jesus dizia que aquilo que semeamos não nasce, se primeiro não morrer. Quão verdadeira é esta afirmação! Ela se aplica a um sem-número de realidades espirituais que precisamos aprender. Esta é uma delas. Jamais poderemos experimentar a perfeição da vida com Deus se, antes, não formos completamente desligados da vida natural.
Quem é o verdadeiro cristão? É aquele que perde a sua identidade terrena e se torna um cidadão dos céus. A Bíblia nos chama de peregrinos sobre a terra, querendo nos fazer entender que a nossa existência neste mundo não passa de uma passagem rumo à nossa habitação celestial, a qual nos está preparada por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. Somos crentes verdadeiros? Então não pertencemos mais a este mundo! E, se não pertencemos mais a este mundo, a morte nada mais é do que a porta de entrada para o nosso verdadeiro lar com Cristo, quando estaremos cobertos por um novo corpo, incomparavelmente mais perfeito do que este que temos aqui.
A Bíblia ainda nos mostra, até este ponto, que não se trata de o cristão desejar morrer. O que ele na verdade deseja é simplesmente conhecer a vida perfeita que só pode ser conhecida quando se perde esta vida parcial. A vida parcial é a vida do crente que anda pela fé, mas a vida perfeita é aquela na qual vemos Cristo claramente, andamos com ele e somos como ele é. Esta vida só pode ser experimentada quando passamos pela morte. Em outras palavras, dizemos que não é que o cristão ache que a vida terrena não valha a pena; é simplesmente que ele sabe da existência de uma outra vida que vale muito mais!
3. A MORTE É UMA EXPERIÊNCIA DESEJÁVEL PARA O VERDADEIRO CRISTÃO
Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor. É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis.” (2Co 5.8-9)
Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. (Fp 1.21-23)
Observe que estamos avançando. Primeiro, vemos a morte como um inimigo (ainda que vencido), depois como uma passagem necessária. Porém a revelação das Escrituras sobre este assunto é muito mais profunda.
O mesmo texto de 2Coríntios que observamos no tópico anterior, o qual nos dizia que não se trata de desejar morrer, termina afirmando: estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor. O mesmo apóstolo Paulo que diz isso irá completar em Filipenses: morrer é lucro [...] tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.
A Bíblia não poderia ser mais clara. A morte não é apenas um inimigo vencido ou um mal necessário. A morte é a alegre, gloriosa e desejável porta de entrada do cristão genuíno para o gozo de sua vida em plena comunhão com Cristo. Certamente que o mundo não pode nos entender, mas a verdade precisa ser dita: morrer é infinitamente melhor, pois a morte nos levará para junto dAquele a quem mais amamos, a quem mais desejamos, Aquele por quem vivemos todos os dias suspirando pelo Seu retorno glorioso.
Ah, o encontro final com Cristo… Quão doce deverá ser aquele dia em que verei o meu Senhor face a face! Como será belo o encontro com o Noivo! Quantas delícias haverão naquele jantar, quando comemoraremos juntos a Sua obra perfeita de redenção da humanidade e a sua vitória sobre tudo e todos!
Sei que você, não-cristão, não consegue me compreender. Não sei se você, cristão, é capaz de sentir o que a Bíblia me faz sentir ao falar neste assunto. Mas a verdade é que, nós, filhos de Deus, deveríamos viver ansiosos pelo grande dia em que O encontraremos. Enquanto estamos nesta vida, conhecemos a Deus apenas pela fé. Mas, oh, naquele dia… Naquele dia haveremos de vê-lo como ele é; haveremos de conhecê-lo como Ele hoje nos conhece.
Você não é capaz de desejar este dia? Você não consegue dizer: “morrer é lucro para mim”? Você não pode ainda afirmar: “prefiro deixar o corpo e ir habitar com o Senhor”? Então mergulhe nas profundezas da Palavra de Deus, busque o pleno conhecimento de Cristo e se deixe guiar pelo doce Espírito Santo, e então você poderá dizer: estar com Cristo é incomparavelmente melhor!
CONCLUSÃO
“Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. (1Ts 4.13-14)
Afora tudo o que dissemos, todavia, ainda é preciso afirmar que não basta conhecer a posição bíblica acerca da morte. Lembre-se que o verdadeiro cristão é aquele que vive e pratica a Palavra de Deus e se sujeita à autoridade das Escrituras, conformando-se a ela.
Sendo assim, eu preciso não apenas saber o que a Bíblia diz, mas reagir às mais diversas situações em sintonia com aquilo que conheço da Palavra de Deus. Não basta ter certeza de que a morte está vencida pelo poder da Ressurreição, que é Cristo; é preciso vencê-la com minhas atitudes e posturas diante das situações em que o seu aparente poder se manifestar. Não basta saber que a morte é o caminho necessário para a incorruptibilidade; é preciso louvar a Deus e engrandecê-lo por aqueles que morrem, sabendo que estes estão experimentando um poder de vida infinitamente superior àquele que nós hoje conhecemos. Por fim, não basta o conhecimento bíblico de que a morte é lucro e é uma alegria para o crente genuíno; é preciso alegrar-me com ela, à medida em que sei que a sua chegada sinaliza o grande dia em que verei o Senhor como ele é, e o encontrarei uma vez por todas na nossa habitação celestial.
Não se trata de dizer que o crente não pode sofrer diante da morte, como se fosse um robô destituído de sentimentos. O cristão não é uma rocha inabalável. Todavia, o cristão está sobre uma rocha inabalável, que é Cristo, firmado nEle e fundamentado nEle. Sendo assim, embora também esteja sujeito às emoções e sentimentos a que todos estão sujeitos, o verdadeiro cristão reage a estas emoções e sentimentos de acordo com a Bíblia.
Ora, de nada me valeria crer que a Bíblia é a verdade e que nela estão todos os ensinamentos de que eu necessito para a minha vida, se eu não pudesse utilizar a minha fé na Bíblia e a minha confiança em seus ensinamentos quando mais precisasse. Se a Bíblia é a verdade, mas eu não consigo andar segundo ela nos momentos mais críticos da minha vida, então a Bíblia não é relevante. Mas, se a Palavra é verdadeiramente “o poder de Deus”, então, mesmo diante dos piores sentimentos e das piores experiências pelas quais eu passar, permanecerei firmado em seus ensinamentos e seguirei as suas instruções.
Terminamos trazendo à memória o aviso do nosso irmão Paulo:
“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” (1Co 15.19)
E, confiantes na Palavra de Deus, sabemos que, em Cristo, a nossa esperança não é vã.
nEle, Jesus Cristo, que venceu a morte pelo poder da Ressurreição.

                                                             24.05.2011



                
                                      LucioA.fidalgo

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